quarta-feira, maio 11, 2005

What about listening to jazz?

Talvez seja melhor começar com um início decente.

O meu primeiro impacto com o mundo do jazz foi com a música “Why Don’t You Do Right?” tocada pelo swinger Benny Goodman e cantada pela voz de Peggy Lee. É simplesmente fenomenal e singular – a voz dela extremamente doce a juntar-se em pleno ao suave clarinete de Benny Goodman – é de notar o pequeno solo quase cliché que sai daquele clarinete –; faz-me lembrar aqueles sons que ouvimos e que inconscientemente cantamos sem saber bem de onde vêm, mas que quando finalmente ouvimos, é quase como um alívio sabermos a sua proveniência. Era este som que me atormentava, mas descobri-o… e adorei-o… há já algum tempo.

Depois deste inocente e repentino encontro com a música jazz, não me lembro de me esforçar por ouvi-la senão de manhã no magnífico programa dos “cinco minutos de jazz” do José Duarte, na rádio. Era quase como uma salvação. Acordar em stress, despachar-me em stress, entrar no carro da minha mãe em stress e finalmente esperar pela selecção matinal de jazz que este senhor fazia (e faz) como ninguém – «passa o genérico, explica minuciosamente em poucos segundos quem vai tocar, e: música… – até atingirmos o ponto de rezarmos por chegar o dia em que temos uma cultura jazzística igual ou superior a este senhor.

Mas foi realmente aos 17 anos que decidi abrir uma pequenina porta desse colossal mundo do jazz, começando então por ouvir algumas coisas de Miles Davis, Duke Ellington, Louis Armstrong e John Coltrane. O momento marcadamente simbólico para mim foi o dia em que “desencantei” um Live in Bologna 1985, já com algum pó, de um tal Chet Baker. Foi aí que realmente comecei a apreciar a música jazz, tendo por base este CD que ainda hoje o guardo com extremo cuidado e segurança, visto ser uma raridade exemplar que me dá sempre um imenso prazer ouvir, seja onde for, a qualquer altura.

Vindo parar a mim doutras partes que não o jazz, Keith Jarrett com os seus The Köln Concert e La Scala, de tão magníficas obras que o são, despertaram-me o interesse de explorar a obra deste pianista, o que levou-me a ouvir de “rajada” o seu trio com Jack deJohnnette e Gary Peacock, com as inigualáveis prestações nos concertos Standards gravados no Japão. Noutras perspectivas da música jazz, Zakir Hussain igualmente me ilustrou bem os seus brutais dotes musicais perante um par de “tablas” – principalmente com Jan Garbarek, John McLaughlin e Hariprasad Chaurasia em Making Music.

De um jazz talvez clássico – não no sentido “morto” e retrógrado desta palavra, mas sim no sentido de lembrar a instrumentalização que esteve na origem e no desenvolvimento da evolução do jazz – até um jazz de fusão electrónica (sendo, por base, a corrente fusion, com as mãos da electrónica). É neste campo que me dediquei mais tempo (e continuo a dedicar), sendo para mim altamente excitante a fabulosa mistura dos ritmos jazz e dos seus instrumentos com uma certa improvisação, por parte do(s) DJ(s), de batidas e misturas, que fazem do jazz algo altivo no campo electrónico. Uma corrente altamente inspiradora que começou com o nome de acid-jazz pelas mesas da dupla austríaca Kruder & Dorfmeister e que evoluiu para muitas formas de encarar esta junção. Acid-jazz, nu-jazz, electro-jazz, alguns nomes que definem, de certa forma, uma mesma corrente.

Espero que o mundo do jazz em geral continue como sempre o vi: uma gigantesca árvore genealógica com um desmedido número de ramificações de géneros e estilos – alguns ramos já estagnados e outros sempre a crescer.
J.A.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

boas referências, bom texto.. que relata o teu progresso cultural. falas com paixão das tuas preferências musicais, o que nos leva mesmo a pensar "what about listening to jazz?".. Cativante.

11:38 da tarde, maio 21, 2005  

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