“O Idiota Supremo”
Não raras vezes, lemos um livro que nos foi indicado ou mesmo “impingido” por uma qualquer “autoridade superior”. Deparamos, posteriormente, com obras vazias de um conteúdo significativo. A história da literatura muitas vezes sofreu com esta espécie de “forcing” em transformar obras e escritores razoáveis (ou mesmo medíocres) em vultos literários.
No entanto, existem também casos, em que o valor literário e histórico de uma obra é verdadeiramente incontestável. Poderia mesmo citar acerca deste ponto obras como “Os Maias” ou ainda um fabuloso “Hamlet” de Shakespeare.
Nesta minha apreciação vou-me debruçar sobre aquela que considero uma das mais proeminentes obras da literatura europeia: “O Idiota” de Fiódor Dostoiévski.
O “Idiota”, que nos é apresentado pelo escritor russo, simboliza, na minha opinião, não só o mais puro e sofredor dos corações humanos, mas simultaneamente a mais nobre e virtuosa atitude do Homem. Atrevo-me mesmo a dizer que um leitor que interiorize, gradualmente, a obra, se sente a dado momento como que um amigo de Lev Nikoláevitch.
Este príncipe vai mais além do Artur Corvelo “pintado” por Eça. Este Príncipe Míchkin representa toda a ingenuidade, todo o valor e toda a força que um homem pode usar em prol das outras pessoas. Dostoiévski não se limita a apresentar um príncipe simplesmente ”idiota”. O escritor coloca este mesmo “idiota” no mais nobre dos cenários russos onde, as figuras exultantes da alta sociedade, se deliciam com a sua “estupidez” perante pontos de vista que qualquer leitor sensível identifica como demasiado profundos e vanguardistas para a época. Pese embora isso, esses pensamentos baseiam-se sempre numa base sólida que nos faz repensar as nossas simples vidas de cidadãos do mundo desenvolvido em pleno século XXI (atente-se que, o livro foi escrito no final do século XIX, numa altura em que a Rússia se agitava com graves problemas sociais e económicos).
Concluo, não querendo cair na tentação de espelhar neste artigo os traços gerais da obra (o que de resto, seria impossível), que este “O Idiota” é, a meu ver, uma das mais importantes obras existencialistas de todo o tempo. Não um existencialismo explícito, mas um existencialismo subtil. Dêem-me a ousadia de afirmar que: o mundo seria bem melhor, se todos nós conseguíssemos igualar os nossos corações ao de Lev Nikoláevitch, não tendo medo de ser bons, mesmo que para isso sejamos para sempre e inevitavelmente apelidados de: “O Idiota”.
P.S: Deixemo-nos então influênciar por um bom livro porque, como referiu Marguerite Yourcenar (e nos lembra o programa "páginas soltas" numa citação da escritora) : "A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana."
No entanto, existem também casos, em que o valor literário e histórico de uma obra é verdadeiramente incontestável. Poderia mesmo citar acerca deste ponto obras como “Os Maias” ou ainda um fabuloso “Hamlet” de Shakespeare.
Nesta minha apreciação vou-me debruçar sobre aquela que considero uma das mais proeminentes obras da literatura europeia: “O Idiota” de Fiódor Dostoiévski.
O “Idiota”, que nos é apresentado pelo escritor russo, simboliza, na minha opinião, não só o mais puro e sofredor dos corações humanos, mas simultaneamente a mais nobre e virtuosa atitude do Homem. Atrevo-me mesmo a dizer que um leitor que interiorize, gradualmente, a obra, se sente a dado momento como que um amigo de Lev Nikoláevitch.
Este príncipe vai mais além do Artur Corvelo “pintado” por Eça. Este Príncipe Míchkin representa toda a ingenuidade, todo o valor e toda a força que um homem pode usar em prol das outras pessoas. Dostoiévski não se limita a apresentar um príncipe simplesmente ”idiota”. O escritor coloca este mesmo “idiota” no mais nobre dos cenários russos onde, as figuras exultantes da alta sociedade, se deliciam com a sua “estupidez” perante pontos de vista que qualquer leitor sensível identifica como demasiado profundos e vanguardistas para a época. Pese embora isso, esses pensamentos baseiam-se sempre numa base sólida que nos faz repensar as nossas simples vidas de cidadãos do mundo desenvolvido em pleno século XXI (atente-se que, o livro foi escrito no final do século XIX, numa altura em que a Rússia se agitava com graves problemas sociais e económicos).
Concluo, não querendo cair na tentação de espelhar neste artigo os traços gerais da obra (o que de resto, seria impossível), que este “O Idiota” é, a meu ver, uma das mais importantes obras existencialistas de todo o tempo. Não um existencialismo explícito, mas um existencialismo subtil. Dêem-me a ousadia de afirmar que: o mundo seria bem melhor, se todos nós conseguíssemos igualar os nossos corações ao de Lev Nikoláevitch, não tendo medo de ser bons, mesmo que para isso sejamos para sempre e inevitavelmente apelidados de: “O Idiota”.
P.S: Deixemo-nos então influênciar por um bom livro porque, como referiu Marguerite Yourcenar (e nos lembra o programa "páginas soltas" numa citação da escritora) : "A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana."
P.R.
3 Comments:
O carácter existencialista que extrais do “Idiota” provém de um maniqueismo latente nesta obra. O eterno e sempre confuso combate entre o Bem (Príncipe Michkin) e o Mal (Rogójin) retrata bem o quanto a linha que os separa pode ser ténue: Ambos começam e acabam a estória juntos, como se as suas existências dependessem, de alguma forma, uma da outra.
A referência que fazes a Shakespeare é curiosa porque a envolvente trágica que emana da personangem central aproxima umbilicalmente o autor russo de outras personagens centrais do dramaturgo inglês(como o referido Hamlet).
Lev Nikoláevitch (O Príncipe) é o carro de combate santificado pelo russo na luta contra o ateísmo. Dostoiévski apresenta-nos alguém que veste um “quixotismo” desarmante na forma como acredita cegamente na bondade daqueles que o rodeiam, tal como o “engenhoso fidalgo” cria e seguia as quimeras dos livros de cavalaria andante. Por outro lado, a pureza genuína que nunca o abandona ao longo desta obra leva-o a tomar actos de vontade própria isolados (porque raramente os tem) ao sentir-se tocado por uma compaixão “divina” por aqueles que representam a dor (Nastassia Filippovna).
Assim, o Idiota pode significar uma vitória interior para aqueles que analisarem este rótulo de uma forma sequencial:
O Mal só pode vencer o Bem numa perspectiva exterior, onde as sociedades apregoam a vitória das aparências. Sendo o homem uno, inigualável e inatingível na sua reflexão interior, é na luta interior que o “Idiota exterior” passa a homem virtuoso e vence.
Neste sentido, Dostoiévski parece chamar “Idiota” ao leitor que não conseguir encontrar essa virtude dentro de si. No fundo, a todos aqueles que perdem a sua batalha interior.
hmm... gostei muito de ler o texto e a critica; livro que TENHO "indubitavelmente" de ler! (Ai que bom voltar a usar palavras caras em portugues - "indubitavelmente": palavra essa que foi a minha primeira usada na faculdade!=P) ehehe .. Grande abraço pour vous!
Bom texto. Todo eu estremeci com tao sabias e maduras palavras! Este texto merece o meu aplauso e os mais rasgados elogios.
Parabens (este teclado nao contempla a lingua portuguesa, como tal, estou impossibilitado de usar acentos, enfim, americanices!), tambem, ao meu caro R.C. que conseguiu escrever um comentario quase tao grande como o texto original! (desculpa, eu tinha que me meter contigo)
Para o Sr. P.M., como ves nem sempre falo mal dos vossos textos!! :)
Enviar um comentário
<< Home