domingo, junho 25, 2006

Pequeno Auto-retrato Num Desabafo Inutil

Quero pintar isto da melhor forma possível. Eu não preciso de ninguém. Eu preciso de alguém. Confuso? Talvez, mas nem tanto. Sou o maior filho da puta, o maior cabrão à face da terra. Sabem que mais? A verdade é que se eu não fosse um gajo tão sozinho, talvez ainda fosse mais sacana do que sou agora.
Sou uma besta. Nego o amor que existe em mim, viro-lhe as costas e desato a correr. Isto de se ser sozinho tem muito que se lhe diga. Congela-nos os pensamentos, corrói-nos o coração e cria-nos esquecimento onde deveria haver lembrança.
Quero ser aquele que está sempre bem, quero ser o que está sempre pronto para outra, mas ao fim de alguns anos, a coisa começa a cansar. Conheci tanta gente diferente, de tão diferentes meios, de ideologias opostas, de modos de vida tão contrários ao meu, e o resultado de todas essas experiencias é aquilo que eu sempre ambicionei: a solidão. Meus caros, estou farto, cansado e enjoado de ser sozinho. A solidão repugna-me.
Isto de eu ser assim, não é só burrice, é genético. Está-me no sangue o vírus da depressão. Há que usar protecção contra estas coisas.
O mal de tudo isto é que quando se quer falar com alguém, nada nos resta para além destes textos insignificantes que um homem vai escrevendo para combater a tristeza e a melancolia. A vida é muito chata na solidão. A solidão é enfadonha quando é a nossa vida. São as duas a mesma coisa, não é? Pois, é isso mesmo, a solidão é sempre a mesma coisa. Um dia hei-de experimentar a felicidade.
E quando eu descobrir o segredo
Da neblina cinzenta
Que torna a água barrenta
E sem perdão me esmaga o peito
E quando se levanta de repente
A névoa que cobre o rio
Que gela tudo de frio
E escurece a corrente
Longa se torna a espera
Na névoa que cobre o rio
Lenta vem a galera
Na noite quieta de frio
E quando...
E quando eu apanhar finalmente
O barco para a outra margem
Outra que finde a viagem
Onde se espere por mim
Terei, terei mais uma vez força
Para enfrentar tudo de novo
Como a galinha e o ovo
Num repetir de desgraças
Tim, "Longa Se Torna A Espera"
F.A.R.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Penso que estejas a precisar de um pouco de Jim Morrison. Meu caro: Break on Through (To the other side)

You know the day destroys the night
Night divides the day
Tried to run
Tried to hide
Break on through to the other side
Break on through to the other side
Break on through to the other side, yeah

We chased our pleasures here
Dug our treasures there
But can you still recall
The time we cried
Break on through to the other side
Break on through to the other side

1:37 da tarde, junho 25, 2006  
Anonymous Anónimo said...

you'll be movin' on up someday

8:22 da tarde, julho 02, 2006  
Anonymous Anónimo said...

"It's getting to the point where I am no fun anymore, I am sorry. / Sometimes it hurts so badly I must cry out loud, 'I am lonely!' / I am yours, you are mine, you are what you are, you make it hard."

David Crosby

Dificilmente saberemos nós algum dia disso que é a verdadeira solidão. Paredes vazias do amor de que fugimos, silêncio de sentidos porque nos falta ainda fé para nos levantarmos, eco da nosso voz a ressoar nas ondas, isso será sempre uma solidão de nós para connosco, de nós em diálogo com um qualquer mundo edificado seja lá por quem for, ainda que sonhado. Quando Henry D. Thoreau foi para Walden também ia sozinho e não foi por isso que descobriu a solidão.

"Não há nada que esteja só; nada pode estar em completa solidão: o que existe necessita de outro para ser". Leopoldo Schfer

És amado. Nunca serás sozinho. A tragédia é tu não acreditares nisso. Mas não há nada nas nossas vidas que nós não possamos transformar. Em conjunto.

1:24 da manhã, julho 07, 2006  
Blogger Maya said...

Ruizão, meu querido, li esse texto e ainda não consigo associar o conteúdo à tua pessoa.
"Que está dizerrrr?!?!?!?" =)
Tu és jovem, estás cheio de vida, és uma pessoa bonita, comunicativa, inteligente, interessante... e tens o tempo todo do mundo para "experimentar a felicidade", como o dizes. O que eu sempre defendi é que a felicidade está dentro de nós, não depende de outra pessoa ( a não ser que sejamos nós mesmos a projectá-la num outro alguem que não o nosso próprio ser!).
Creio que esse texto seja resultado de um dos teus momentos "emo" =), porque uma pessoa que gosta de pensar na vida, que sabe estar consigo mesma (que é o teu caso, acho), conhece-se muito bem e, no fundo, sabe ser feliz!
Solidão? Qual solidão?! =)
***

11:06 da tarde, julho 09, 2006  
Blogger Maya said...

Ignore-se o conteúdo do meu comentário anterior. [têm aqui uma pessoa que não toma atenção às iniciais dos autores... =)]

12:09 da manhã, julho 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Algo complexo e delicado esse assunto de solidão...
Mas creio que a tua solidão vem de dentro, pois detecto um vestígio dela logo no título do texto: "inútil", com isso vc já diz muito...Pq inútil? Talvez ao escrever vc procure(apesar de não saber como nem pq) uma solução, uma espécie de compartilha com "alguém", com quem ler, com quem "parar" aqui, com alguém que se identifique...algo vai te retornar este texto, que só por si não pode ser inútil!
Tudo que vem da gente a gente tem que dar valor, isso tem que vir de dentro. Se pelas iniciais deduzi que o Filipe é o autor desse texto, vc é optima companhia, não tem pq tar na falada e (por mim) detestada solidão, afinal somos seres sociais.

bjos pra vc*

1:30 da manhã, julho 19, 2006  

Enviar um comentário

<< Home