sexta-feira, junho 09, 2006

Das Cinzas

Continuas a ser única. A única. Apesar de tudo.
Pensa o que quiseres, já nada sinto. Bem sei que achas que não cresci, que não evoluí e que continuo o mesmo menino perdido e carente de sempre. Até pode ser verdade, todavia, há também outra verdade.
Inspiras-me. O teu rosto inspira-me. Os teus gestos calmos, suaves e sábios atraem-me. Escrevo este texto porque estive contigo há momentos. É sempre nobre ser o motivo para um novo conjunto de palavras, não achas? Mesmo que sejam estas palavras gastas e cansadas, mas qua são minhas. E são para ti.
Nunca me refiz do nosso amor. Foi há dez anos. Este amor é como um perfume intenso que custa a passar. Está grudado nas minhas roupas, no meu corpo e no meu coração.Estás em mim.
Sei que tens outra pessoa e que estás bem. Não suporto que estejas bem, sobretudo, porque estás bem com outra pessoa. Aliás, nem sei qual das duas será a pior. Até estás muito melhor do que quando estavas comigo, confesso. Acho que já me habituei a estes sentimentos. Ao longo destes anos lá tive que me acostumar a ver-te com outros. A ver-te a amá-los. Eu também amei outras pessoas, é certo, mas foi sempre com aquela sensação estranha de te estar a trair a ti. E no fim nada restava. Só tu.
O nosso amor nunca acabou. Eu é que acabei com ele. Quando quis voltar atrás, já era tarde. Já tinhas ido embora.
Adorava quando me tocavas a Rainbirds do Tom Waits ao piano. É uma das mais lindissímas músicas de sempre, não achas? Tu sempre discordaste...
Hoje passas por mim indiferente e com aquele ar altivo que quase te odeio tanto como te amo. Se estes anos serviram para alguma coisa, foi para isto: para assumir a culpa. E por saber que nunca mais te vou ter, é que te escrevo esta carta, por ter a certeza de que eu morrerei com os remorsos, mas que tu, um dia, hás-de morrer com a plena consciência de que foste tu que me mataste!
"Love is blindness
I dont want to see
Won't you wrap the night
Around me
Take my heart
Love is blindness"
F.A.R.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os anos passam e a dor fica, escondida num canto, à espera de um qualquer momento em que volte uma recordação minima para te poder atacar enquanto menos esperas.. Para saltar em cima de ti quando estás de costas voltadas para ela sem poderes ter uma única reacção sem ser: sentares-te, acenderes um cigarro e ficares a recordar incessantemente até veres mais uma vez que já não vale a pena ficares a martirizar-te com isso, contudo sabes que isso vai voltar mais dia menos dia e a tua reacção será sempre a mesma... dolorosa e bonita...

12:54 da tarde, junho 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Já te disse pessoalmente aquilo que acho do texto. É uma das pérolas do desvio.

Podia comentar tudo aquilo que escreveste mas o melhor é olhar para o texto e sentir. Sentir o remorso, sentir a culpa, sentir a esperança e sentir esse tal sentimento que simultaneamente nos mata e nos dá vontade de viver.

Abraço

5:32 da tarde, junho 10, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Há tão pouco tempo que passo por ti... mas não sei bem como dá-me sempre a ideia que revejo em ti qualquer coisa que não me é estranha... talvez a tua facilidade em transportar os srntmentos para as palavras...sofremos do mesmo... Muito! Muitas vezes com o passar do tempo apercebemo-nos que não temos nada..mas vem uma lufada de ar novo... um brilho diferente...um cheiro menos normal...e parece que esquece, mas não esquece a dor que aparece e que sempre esteve! Desculpa senão estou a fazer sentido ou se nem sequer devia estar a pôr este comment.. mas achei que te devia dizer que as metamorfoses da vida duram para sempre....

1:58 da tarde, junho 11, 2006  
Anonymous Anónimo said...

estava a ler as tuas palavras e a pensar: "existem pexoas k sentem a mema angustia k eu..." k bom, ha kem me perceba, mas k mau, pk sem bem o k sofres...so poxo dixer: coragem!

2:54 da tarde, junho 11, 2006  

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