O sentido
“Contos Exemplares” é uma obra de Sophia de Mellho Breyner Andresen recheada por um conjunto de textos, neste caso, contos que se apresentam carregados de subjectividade e por uma vertente extremamente humanista, que tem a capacidade de dar largas à imaginação do leitor. Toda e qualquer interpretação estará revestida por uma visão única, com perspectivas e entendimentos diferentes de outros.
Apesar de os contos em geral serem acompanhados por uma linha misteriosa, apenas um foi capaz de suscitar em mim o interesse ou mesmo a vontade de reflectir sobre cada parágrafo, frase, palavra e pontuação.
O conto “O Homem” foi o único que ocupou na minha mente um lugar eterno, isto porque remete para um tema que raramente é questionado, o sentido da vida. “O Homem” descreve vários elementos do nosso dia-a-dia, as horas, o movimento cosmopolita, o stress que nos é imposto e o desaparecimento dos poucos minutos que temos para pensar em nós. No meio deste turbilhão citadino, três personagens fazem uma história. Um homem com uma criança ao colo e uma mulher que no meio de um oceano humano pára para observar a decadente imagem do homem e a divina beleza da criança.
É bem visível que em todos os contos a autora tenha tentado colori-los com um guache religioso, mas fê-lo de uma forma tão subtil que nem nos apercebemos das pinceladelas mal dadas.
Com um olhar agora mais virado para o conto, a própria sociedade que nós criámos é anti-natura. Nós conseguimos ter o poder de nos auto-destruir, afastando-nos de questões existencialistas de elevada importância. Os dias correm ao ritmo de uma montanha russa, tal como a velocidade da onda humana referida no conto. O que acontece, é que tornamo-nos cada vez mais em seres anónimos sem capacidade de justificar a razão pela qual existimos. Os nossos cérebros são ocupados de tal maneira que nos levam por vezes a agir irrazoavelmente. Adoptamos o sistema mais simples, que é o de viver como se não existíssemos e de evitarmos os debates “filosóficos” sobre esse mesmo sentido.
Estaria a mulher à procura de algo? Seria o homem das barbas pontiagudas, com aspecto de mendigo, “Deus”? E a criança?
Mas o que realmente procurava aquela mulher? Talvez uma alternativa ao sentido de viver. E será que ela já tinha um caminho definido? Talvez não, isto porque se o tivesse nunca teria abandonado aquele ritmo robótico daquela corrente humana.
A meu ver, hoje em dia somos obrigados a nos afastar de certas formas celestes que nos poderiam dar a conhecer a verdadeira Natureza. Aquela que nunca foi nem nunca será transformada. Onde não existem alternativas porque tudo tem uma razão de ser. Os olhos da mulher fixaram-se numa imagem que lhe proporcionou um verdadeiro bem-estar. Todos os sons, luzes, movimentos que a rodeavam desapareceram e num curto espaço de tempo, as três personagens foram inseridas num círculo harmonioso. Ela, percebeu definitivamente que vive na palma da mão de uma entidade divina e que se for capaz de encarar isso com toda a sua fé, será uma excepção envolta em felicidade no centro de uma mundo tão superficial.
O homem morreu e desapareceu, talvez devido às pessoas não quererem encará-lo como a razão de existirem. A imagem pobre que ele apresentava é o símbolo de abandono daqueles que acreditavam e que hoje, já nem se lembram que um dia acreditaram. A criança, com certeza que simbolizava a beleza para aqueles que tiveram a coragem de acreditar que a vida não é vivida somente à superfície da pele. É também vivida de forma interior.
Ter fé basta viver-mos conscientes de que estamos vivos. Aquela mulher precisava de “Deus” para se sentir viva.
Apesar de os contos em geral serem acompanhados por uma linha misteriosa, apenas um foi capaz de suscitar em mim o interesse ou mesmo a vontade de reflectir sobre cada parágrafo, frase, palavra e pontuação.
O conto “O Homem” foi o único que ocupou na minha mente um lugar eterno, isto porque remete para um tema que raramente é questionado, o sentido da vida. “O Homem” descreve vários elementos do nosso dia-a-dia, as horas, o movimento cosmopolita, o stress que nos é imposto e o desaparecimento dos poucos minutos que temos para pensar em nós. No meio deste turbilhão citadino, três personagens fazem uma história. Um homem com uma criança ao colo e uma mulher que no meio de um oceano humano pára para observar a decadente imagem do homem e a divina beleza da criança.
É bem visível que em todos os contos a autora tenha tentado colori-los com um guache religioso, mas fê-lo de uma forma tão subtil que nem nos apercebemos das pinceladelas mal dadas.
Com um olhar agora mais virado para o conto, a própria sociedade que nós criámos é anti-natura. Nós conseguimos ter o poder de nos auto-destruir, afastando-nos de questões existencialistas de elevada importância. Os dias correm ao ritmo de uma montanha russa, tal como a velocidade da onda humana referida no conto. O que acontece, é que tornamo-nos cada vez mais em seres anónimos sem capacidade de justificar a razão pela qual existimos. Os nossos cérebros são ocupados de tal maneira que nos levam por vezes a agir irrazoavelmente. Adoptamos o sistema mais simples, que é o de viver como se não existíssemos e de evitarmos os debates “filosóficos” sobre esse mesmo sentido.
Estaria a mulher à procura de algo? Seria o homem das barbas pontiagudas, com aspecto de mendigo, “Deus”? E a criança?
Mas o que realmente procurava aquela mulher? Talvez uma alternativa ao sentido de viver. E será que ela já tinha um caminho definido? Talvez não, isto porque se o tivesse nunca teria abandonado aquele ritmo robótico daquela corrente humana.
A meu ver, hoje em dia somos obrigados a nos afastar de certas formas celestes que nos poderiam dar a conhecer a verdadeira Natureza. Aquela que nunca foi nem nunca será transformada. Onde não existem alternativas porque tudo tem uma razão de ser. Os olhos da mulher fixaram-se numa imagem que lhe proporcionou um verdadeiro bem-estar. Todos os sons, luzes, movimentos que a rodeavam desapareceram e num curto espaço de tempo, as três personagens foram inseridas num círculo harmonioso. Ela, percebeu definitivamente que vive na palma da mão de uma entidade divina e que se for capaz de encarar isso com toda a sua fé, será uma excepção envolta em felicidade no centro de uma mundo tão superficial.
O homem morreu e desapareceu, talvez devido às pessoas não quererem encará-lo como a razão de existirem. A imagem pobre que ele apresentava é o símbolo de abandono daqueles que acreditavam e que hoje, já nem se lembram que um dia acreditaram. A criança, com certeza que simbolizava a beleza para aqueles que tiveram a coragem de acreditar que a vida não é vivida somente à superfície da pele. É também vivida de forma interior.
Ter fé basta viver-mos conscientes de que estamos vivos. Aquela mulher precisava de “Deus” para se sentir viva.
B.M.
2 Comments:
Sabes o que é engraçado na vida?a própria...o que é que todos procuramos?a felicidade, um bem maior, sei lá, todos nós procuramos algo que nos faça ter vontade de viver; que nos faça levantar de manhã e nos faça acreditar que vale a pena sair da cama para encarar mais um dia, pa enfrentar a dor e o sofrimento que são inerentes ao viver...
A tua abordagem a"O Homem" é interessante, gostei do texto...
Fé...prefiro encará-la como a simples crença de que Alguém, omnipotente e omnipresente, está "lá em cima" a olhar por nós. Algúem que tem o poder de nos livrar de todos os males.
No entanto, não encaro essa divindade como responsável pelo meu destino.Acredito que o futuro é contruído por mim e pelas minhas decisões. Acredito que sou eu que o moldo porque não está pré-determinado, embora nalgum momento possa ser e necessitar ser orientada nalguma direcção.
Quanto ao teu texto acho que está deveras interessante porque me pareceu que te conseguiste abstrir, pelo menos em parte, das tuas próprias crenças, apresentando-o do próprio ponto de vista das personagens.Gostei do texto e gosto de ti eheheh
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