sábado, maio 21, 2005

Sou uma pedra fria

Sou uma pedra fria, cinzenta, chutada para longe por todos.
Sou a erva daninha, verde e odiosa que por todos é pisada e deitada fora quando moribunda.

Ah!Mas há-de quem me chute!
Mas há-de quem me pise!

Eu sou uma fronteira,
Todos me queriam com uma côr, com uma bandeira
Todos me queriam religioso e hipócrita
E afinal tudo o que eu quero é das palavras a magia – a verdade!
Sim, porque a verdade ainda existe...

Sou uma pedra fria, sim.Cada vez mais fria, aliás.
Quero flores vermelhas no meu jardim, pétalas macias caindo na minha face...
Passar naquela rua côr-de-rosa, eu quero
Pisar aquela areia de música,
Molhar os lábios naquela espuma de poesia
Extrair a consciência da demência do dia-a-dia
E disso viver como se de ar azul se tratasse...

E queriam-me obediente e submisso
Calado e sem lágrimas, queriam que eu fosse
Um líder, o maior – um Deus!
Mas eu sou apenas um ser subversivo, insolente
Como todos aqueles que morrem sózinhos...

E quando eu morrer não quero cá lágrimas nem falsos lamentos,
Lancem-me alcoól, injectem-me inconsciência
No sangue que há-de arder nas chamas do inferno...

E eu hei-de gritar como uma fria pedra grita nas frias chamas do paraíso
E que por força do meu fado, que seja por força de minh’alma,
Que a palavra liberdade conste no meu letreiro,
Naquele meu lugar derradeiro...

Ah!Mas há-de quem me chute!
Mas há-de quem me pise!

Que a liberdade será o meu letreiro,
Aconteça o que acontecer, no meu momento derradeiro!!
F.A.R.

4 Comments:

Blogger Rui Coelho said...

Eu chutava essa pedra fria que acabaste de escrever pó estrelato,é onde pessoas que escrevem coisas assim merecem estar. Não sei qual é a receita para alguém se tornar num escritor consagrado, mas desconfio que tu sabes..

3:01 da manhã, maio 21, 2005  
Anonymous Anónimo said...

que poderei comentar perante estas palavras que gritam por liberdade?? liberdade.. sempre referida nos teus textos ou melhor, a procura incessante da liberdade, essa "menina bonita" que pensas que nunca vais abraçar... essa que te fez escrever com ardor, com amor... amor esse quase perfeito...

11:09 da tarde, maio 21, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Tudo tem um reverso, um direito e um avesso. Não sei o que está do outro lado das tuas asas - ninguém que não tu o poderá saber - mas sei que nunca nada é definitivo. «The deeper the mud, the bigger the lotus flower that blooms from it.» Podemos "pisar aquela areia de música" sempre que queiras. Isso é liberdade.

2:05 da tarde, maio 22, 2005  
Anonymous Anónimo said...

que bem escreve esta pedra fria...e como é bom termos os nossos anseios...é a demanda que nos estende o tapete nos caminhos mais tortuosos mas, a tua quimera, essa liberdade desejada a tua, será conveniente? todos andamos em busca de algo, no entanto não sejamos desatentos...quantas vezes não procuramos incansavelmente o que acaba por estar mesmo ao nosso lado?

9:04 da tarde, junho 09, 2005  

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