quarta-feira, maio 25, 2005

OUI - NON

A Europa encontra-se a um passo de decidir muito do seu futuro. E porquê? Porque a França, dividida entre o sim e o não à Constituição Europeia, galopa a um ritmo infernal por um caminho incerto...

Em primeiro lugar, há que ter em conta a importância da opinião francesa neste referendo. É que este país foi um dos mais importantes fundadores da União Europeia, tendo uma voz que ditou muito daquilo que foi até hoje feito «em nome da Europa». Contribuiu com personalidades de todas as áreas, incluindo um dos símbolos do pensamento actual europeu – Jacques Delors. A “casa” europeia foi construída com “alicerces” franceses e conservada com muitas “paredes” francesas. Desta forma, compreender-se-á que a sua opinião é de extrema importância para todo o povo europeu.

Mas o que se debate hoje em França ultrapassa a própria ideia da «construção europeia». Debate-se desde a integração da Turquia à U.E. à forma como os franceses entendem que Jacques Chirac não tem ouvido o seu povo (facto que incontornavelmente o fez ser quem é), passando pelo recente alargamento da Europa a 25 e por temáticas como o “offshoring” de postos de trabalho e a globalização. Formas diversas de responder a um referendo que se tornou no “bode expiatório” de imensas temáticas que em pouco dizem respeito ao próprio documento da Constituição Europeia.

Valéry Giscard d’Estaing, principal criador do texto da Constituição, defende o documento, afirmando ser esta «a Constituição certa para a Europa». Num artigo para a revista Time, Giscard d’Estaing admite que, até a ele, este texto dá insónias, mas que a melhor maneira do povo francês responder ao referendo é assegurando o sim, «evitando o cenário de pesadelo» que o mesmo pode criar ao ser rejeitado. Por outro lado, Bruno Gaccio, principal argumentista do programa satírico francês “Les Guignols de l’Info”, defende peremptoriamente o não, afirmando: «Esqueça a Constituição. São os líderes políticos franceses que devemos rejeitar». Desta afirmação é fácil retirar os fundamentos do voto no não. O povo francês está farto da forma como a sua classe política age (como elite governamental), não ouvindo a opinião da sociedade em geral. Não obstante o facto de a França realmente já não se sentir no comando das ideias da Europa, o que leva a confirmar uma tendência já há muito defendida por muitas vozes mundiais. Desta forma, é muito provável que o não ganhe; mas mesmo que não ganhe, pelo menos deste poderoso debate em França, os políticos já não mais esquecerão a importância da voz do seu povo. Os argumentos de ambos os lados são diversos, mas uma coisa é verdade: se os franceses rejeitarem o documento da Constituição, as repercussões serão sentidas por toda a Europa... e o futuro desta será incerto.
P.S.: Pessoalmente, defendo um não francês à Constituição Europeia - mesmo discordando de muitos argumentos e opiniões usadas neste campo -, pelo simples facto de esta opinião ir gerar um fortíssimo debate sobre os fundamentos da Europa, assimilando velhas e novas ideias e problematizações que deverão “paralisar” os europeus para reflectirem um pouco sobre o futuro destes «Estados Unidos». A meu ver, um não significaria uma resposta convicta do povo europeu aos “comandantes” da U.E. para idealizarem e concretizarem, de uma forma convicta, um conjunto de “armas de agir” sobre o poderio europeu face às outras potências mundiais. Pois esta é uma altura crucial para a Europa poder fazer frente às mais poderosas economias mundiais; e um simples erro poderá fazer toda a diferença – daí eu defender um debate realmente alargado e consistente que ponha em acção uma ideia única de uma Europa unida e forte.
J.A.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Penso que o teu texto "Oui-Non" mostra que mais do que saberes escrever (e fizeste-o bem) sobre temas de interesse actual, sabes pensá-los. Tiveste o cuidado de colocar-te à margem das correntes opinatórias e soubeste separar as águas do SIM e do NÃO no que diz respeito à tua opinião pessoal. Mereces elogios por isso.
No entanto acho que pecas num pormenor fulcral, já que devias ter tido a preocupação de definir as linhas gerais do documento sobre a Constituição Europeia, de modo a que os leitores do blog saibam em que bases se formulam as correntes de opinião que divergem em França e um pouco por toda a Europa. Acho que não chegas a entrar verdadeiramente dentro desse documento, e deverias tê-lo feito.
Se alguém estiver à porta de uma casa, tem uma capacidade bem menor de conhecer o seu interior do que se estiver lá dentro! É um pormenor para ires trabalhando, Abraço

9:47 da tarde, maio 29, 2005  

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