terça-feira, junho 14, 2005

Obrigado Obrigado Obrigado

Perdemos três grandes Portugueses nestes últimos dias.
Vasco Gonçalves, Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade foram Homens que, de um modo ou de outro, tornaram-se referências nas áreas em que se distinguiram e são exemplos para todos nós.

Eugénio de Andrade foi enorme no campo da poesia, magia literária que é harmonia, que é equilíbrio, que é arte puxada à forma de uma letra, irmã de tantas outras. É pacificamente tido como um dos maiores poetas portugueses contemporâneos e a sua obra, tendo a sua mãe como base de fundo na qual se inspirou para nos fazer sonhar, tem a riqueza e a versatilidade a que só os grandes podem aspirar.

De Álvaro Cunhal fala o emotivo poeta chileno Pablo Neruda, o qual dedica-lhe um poema, na sequência das constantes detenções e desaparecimentos do eterno líder comunista português, por parte da PIDE. Data de 1967 este excerto de "La lámpara marina":

"Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?"

Preso inúmeras vezes pela defesa activa dos seus ideias democratas na luta contra o fascismo, o homem que liderou o Partido Comunista entre 1961 e 1992 esteve na linha da frente no desatar da teia em que a máquina salazarista envolveu colónias e povo português.

Vasco Gonçalves, um dos capitães de Abril. O eterno general fez mais do que mobilizar um povo na batalha pela liberdade através da palavra, ele encarnou-a como objectivo de vida num espírito revolucionário de libertação da sua pátria no seu sentido patriótico mais puro, no combate aos repressores do Estado Novo que governou Portugal, na prática, desde 1926 até 1974.

O 25 de Abril terá sido o dia mais feliz na vida destes dois estoicos, e apesar do que sofreram com o levar à prática das suas ideias revolucionárias por uma sociedade livre e justa, são unanimemente considerados como dois homens privilegiados por terem passado por este mundo numa altura tão decisiva para o povo português, deixando uma marca que não mais será esquecida.
Para sempre recordados. Por partidários ou não do partido comunista, por aqueles que discordavam das suas excentricidades convictas e por todos aqueles que viviam dentro do eixo da opressão salazarista como cães que obedecem ao dono (faziam-no, porque não tinham para onde ir e esboçavam um sorriso de admiração escondido do fundo do buraco da sua vida cobarde, face à convicção comovente como estes homens lutam pela liberdade de um povo).
Espreito um sorriso de reconhecimento e de um obrigado na cara de todas estas pessoas a estes três portugueses que elevaram bem alto o nome de Portugal. Eu também o terei.
R.C.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como sempre o texto tá optimo, muito bem escrito e inspirador...desta feita o realismo invadiu a tua veia poética, nada de camas na praia... ;) Acho que é sempre bonito homenagearmos os grandes nomes da História portuguesa...é, de facto, uma grande perda, mas a vida é mesmo assim, uns vêm e outros vão...resta aos que ficam aproveitar as coisas boas que ela (a vida) tem para nos dar!

Beijo grande *I've got you...under my skin... ;)

10:51 da tarde, junho 15, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com homenagens a grandes vultos que escrevem a história. Não concordo para que isso nos faça adormecer em realidades distantes, como se esse fosse o nosso destino ou a nossa última chance. Portugal precisa de olhar para a frente, escrever e respirar ideias novas, não viver do mofo no qual pensamos ainda viver.
Grandes pessoas são sempre marcos. Ideais ajudam-nos a pensar, a criticar, principalmente a aprender, mas pouco nos ajudam a ficar presos num passado que é passado, bonitos no seu presente mas inadequados à realidade. Esta não é uma crrítica a este texto em especia

4:46 da manhã, junho 16, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Estes homens merecem sem dúvida uma homenagem, principalmente Cunhal que foi sempre fiel aos seus princípios (ou será isso estagnação?). No entanto, a questão que urge fazer é: seremos hoje mais livres do que eramos antes do 25 de Abril?
Vivemos actualmente em Portugal a velha máxima do "rico mais rico, o pobre mais pobre", e quem é que não se apercebe disto? Quem é que considera a crise uma simples e distante notícia de jornal?Resposta: os ricos, pois está claro!! Aos ricos pouco importa que o IVA aumente 2%, estes aumentos não os atingem de forma alguma!
Morreu o último político português que defendia os menos abastados, o único líder partidário que renunciou a luxos materiais, que não possuia montes no alentejo, nem se passeava em Audis, Mercedes e afins.

2:00 da manhã, junho 20, 2005  

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