domingo, junho 19, 2005

«Que é feito da mãe de Minos, Radamanto e Sarpédon!?»

Para quem não a conhece, é aquela senhora já de cabelo grisalho, voz rouca, andar lento e, ultimamente, um pouco confusa das ideias.

Durante toda a sua vida lutou para ter um papel importante no mundo – e teve –, mas parece que já não tem força nem cabeça para alimentar o sonho que ainda hoje anseia – ser senhora do mundo, como foi em tempos passados.

A sua longa existência aparece-nos no seu olhar… Hoje, o seu tempo é passado a relembrar aquilo que presenciou, sentiu, respirou, enfim, que viveu! Mas claro, forte como pensa que ainda é, tenta, de formas incríveis, sobreviver a tempestades e terramotos, mantendo ainda alguma da sua energia para tratar de algumas coisas importantes que se passam no mundo. Para outras, manda bocas ou refila, mas já ninguém, ou quase ninguém a ouve…

De nariz empinado, aceita, estranhamente, de bom grado, a gordura. «Engordar desta forma até é saudável», diria ela. Mas, na minha opinião, deveria, depois de engordar, fazer um pouco de exercício, de forma a fortalecer-se a si própria e à mais recente gordura.

Nos últimos tempos, tem andado um pouco adoentada. Para ela, esta é mais uma daquelas crises que sempre teve. Mas, por precaução, chamou o seu médico lá a casa. Depois de este a ter analisado cuidadosamente, e ter discutido com os seus colegas de profissão, anunciou seca e tristemente:

«A [Sr.ª] Europa não está em crise. Está numa crise profunda.»
J.A.
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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A Europa é um grande museu, com muita história e com ... muito pó. A Europa foi raptada pela estupidez, pelo vazio, pelo superficial. Onde está a grande e sábia Europa. Onde está a Europa da cultura? Como disse Jim Morrison: "o que nós precisamos é de uma guerrazinha, pequena e simpática por aqui".
Este texto é muito bom. Reflecti. Eu gosto de reflectir.

12:52 da manhã, junho 25, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Interessante este texto, num registo bem diferente de outros teus aqui publicados.
Espreguiças a mente do pessoal com alguns recursos estilísticos e referências históricas que resultam num texto marcadamente análogo e plenamente conseguido. Tem ainda a vantagem de ser salpicado com uns pózinhos de uma sempre cativante ironia (quando bem utilizada)e, analisando o que ja fizeste até agora, este será provavelmente o texto mais conseguido que escreveste no blog.
Também notei que, propositadamente ou não, reduziste consideravelmente a sua dimensão em relação a outros textos e isso tb o torna mais apelativo.
Quanto ao conteúdo,é um reforçar de ideias tuas sobre um tema que está na ordem do dia e que fazes questão em demonstrar a tua preocupação como bom europeu que és,embora pareças um magre(bean)o.
Abraço e continua!

3:16 da manhã, junho 26, 2005  
Blogger Rui Coelho said...

A minha opinião mantém-se... se continuares assim metes o Miguel Sousa Tavares na prateleira de vez. ehehe.
Gostei muito da forma como personificaste este velho continente e mostraste o estado em que se encontra.`
estamos sem dúvida inseridos num ciclo vicioso. Qualquer dia "estamos" todos virado de costas uns para os outros e bem amuadinhos.
Parabéns

B.M.

11:10 da tarde, junho 26, 2005  

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