Angola, quem te viu
Novembro de 1975
- Um soldado negro aproximou-se de mim e disse: "Oh branca, o que fazes ainda na minha terra? Vai-te embora senão corto-te aos pedaços!"
Estava assim a guerra civil em Angola, diz a minha avó enquanto olho para um dos muitos quadros "desse tempo" que temos no escritório da nossa casa, em Portimão. É uma fotografia picada sobre Luanda, desnudando a baía magnífica que, pintada pelo oceano atlântico, viu crescer a minha família. Quanta beleza.
Mas se o estético era agradável, a segurança era mais do que útil - prioritária. Foi nesse contexto que a família Coelho teve de se decidir pelo inadiável: Ameaçada pelas balas que a UNITA e o MPLA disparavam pelo país, pegou em alguns haveres (poucos) e fugiu num navio rumo a Portugal. Pensavam eles que poderiam voltar para casa logo que possível, mas a verdade é que desde esse longínquo Novembro que nunca mais puseram os olhos na terra onde nasceram.
Janeiro de 2007
Quando moravam em Luanda, os meus pais viviam sem qualquer tipo de luxos. Pelo menos no conceito que os nossos olhos entendem. Mas para a maioria dos olhos angolanos, eles possuíam um bem que, hoje, percebe-se o quanto tinha de inestimável: água potável.
Hoje, em pleno século XXI, as várias investigações feitas no terreno revelam que mais de metade da população angolana não tem acesso a água potável. Parece mentira mas o facto é que, 3 décadas volvidas, as condições de higiene e saneamento básico da população angolana continuam transversalmente miseráveis e as pessoas morrem (como morriam) vergadas a doenças endémicas como a cólera.
E o que faz o Estado quanto a isto?
Bem, perguntemos ao Senhor-Presidente-Vitalício-Todo-Poderoso José Eduardo Dos Santos - quem melhor para nos satisfazer esta curiosidade!?
Mas, vai daí, talvez o líder do MPLA esteja tranquilamente ocupado em "negociatas" de diamantes e petróleo com americanos e franceses, aproveitando para ir engordado no "Miami Beach" (nome sensacional para o seu restaurante em Luanda) e alimentando o seu polvo aterrado desde 1979 no centro da capital. Cidade-mentira, esta, que engole o sofrimento das favelas periféricas e do resto de um país que parou no tempo às mãos de um poder corrupto.
Num país tão rico em recurso naturais e com uma das economias mais frágeis do mundo, pouco mais há a dizer. Quanto à minha família, vai-se deleitando com memórias e quadros de um tempo que já não volta para o que era bom, e que cristalizou no que era mau.
É o drama de Angola.
- Um soldado negro aproximou-se de mim e disse: "Oh branca, o que fazes ainda na minha terra? Vai-te embora senão corto-te aos pedaços!"
Estava assim a guerra civil em Angola, diz a minha avó enquanto olho para um dos muitos quadros "desse tempo" que temos no escritório da nossa casa, em Portimão. É uma fotografia picada sobre Luanda, desnudando a baía magnífica que, pintada pelo oceano atlântico, viu crescer a minha família. Quanta beleza.
Mas se o estético era agradável, a segurança era mais do que útil - prioritária. Foi nesse contexto que a família Coelho teve de se decidir pelo inadiável: Ameaçada pelas balas que a UNITA e o MPLA disparavam pelo país, pegou em alguns haveres (poucos) e fugiu num navio rumo a Portugal. Pensavam eles que poderiam voltar para casa logo que possível, mas a verdade é que desde esse longínquo Novembro que nunca mais puseram os olhos na terra onde nasceram.
Janeiro de 2007
Quando moravam em Luanda, os meus pais viviam sem qualquer tipo de luxos. Pelo menos no conceito que os nossos olhos entendem. Mas para a maioria dos olhos angolanos, eles possuíam um bem que, hoje, percebe-se o quanto tinha de inestimável: água potável.
Hoje, em pleno século XXI, as várias investigações feitas no terreno revelam que mais de metade da população angolana não tem acesso a água potável. Parece mentira mas o facto é que, 3 décadas volvidas, as condições de higiene e saneamento básico da população angolana continuam transversalmente miseráveis e as pessoas morrem (como morriam) vergadas a doenças endémicas como a cólera.
E o que faz o Estado quanto a isto?
Bem, perguntemos ao Senhor-Presidente-Vitalício-Todo-Poderoso José Eduardo Dos Santos - quem melhor para nos satisfazer esta curiosidade!?
Mas, vai daí, talvez o líder do MPLA esteja tranquilamente ocupado em "negociatas" de diamantes e petróleo com americanos e franceses, aproveitando para ir engordado no "Miami Beach" (nome sensacional para o seu restaurante em Luanda) e alimentando o seu polvo aterrado desde 1979 no centro da capital. Cidade-mentira, esta, que engole o sofrimento das favelas periféricas e do resto de um país que parou no tempo às mãos de um poder corrupto.
Num país tão rico em recurso naturais e com uma das economias mais frágeis do mundo, pouco mais há a dizer. Quanto à minha família, vai-se deleitando com memórias e quadros de um tempo que já não volta para o que era bom, e que cristalizou no que era mau.
É o drama de Angola.
R.C