quarta-feira, janeiro 31, 2007

Angola, quem te viu

Novembro de 1975

- Um soldado negro aproximou-se de mim e disse: "Oh branca, o que fazes ainda na minha terra? Vai-te embora senão corto-te aos pedaços!"
Estava assim a guerra civil em Angola, diz a minha avó enquanto olho para um dos muitos quadros "desse tempo" que temos no escritório da nossa casa, em Portimão. É uma fotografia picada sobre Luanda, desnudando a baía magnífica que, pintada pelo oceano atlântico, viu crescer a minha família. Quanta beleza.
Mas se o estético era agradável, a segurança era mais do que útil - prioritária. Foi nesse contexto que a família Coelho teve de se decidir pelo inadiável: Ameaçada pelas balas que a UNITA e o MPLA disparavam pelo país, pegou em alguns haveres (poucos) e fugiu num navio rumo a Portugal. Pensavam eles que poderiam voltar para casa logo que possível, mas a verdade é que desde esse longínquo Novembro que nunca mais puseram os olhos na terra onde nasceram.

Janeiro de 2007

Quando moravam em Luanda, os meus pais viviam sem qualquer tipo de luxos. Pelo menos no conceito que os nossos olhos entendem. Mas para a maioria dos olhos angolanos, eles possuíam um bem que, hoje, percebe-se o quanto tinha de inestimável: água potável.
Hoje, em pleno século XXI, as várias investigações feitas no terreno revelam que mais de metade da população angolana não tem acesso a água potável. Parece mentira mas o facto é que, 3 décadas volvidas, as condições de higiene e saneamento básico da população angolana continuam transversalmente miseráveis e as pessoas morrem (como morriam) vergadas a doenças endémicas como a cólera.
E o que faz o Estado quanto a isto?
Bem, perguntemos ao Senhor-Presidente-Vitalício-Todo-Poderoso José Eduardo Dos Santos - quem melhor para nos satisfazer esta curiosidade!?
Mas, vai daí, talvez o líder do MPLA esteja tranquilamente ocupado em "negociatas" de diamantes e petróleo com americanos e franceses, aproveitando para ir engordado no "Miami Beach" (nome sensacional para o seu restaurante em Luanda) e alimentando o seu polvo aterrado desde 1979 no centro da capital. Cidade-mentira, esta, que engole o sofrimento das favelas periféricas e do resto de um país que parou no tempo às mãos de um poder corrupto.

Num país tão rico em recurso naturais e com uma das economias mais frágeis do mundo, pouco mais há a dizer. Quanto à minha família, vai-se deleitando com memórias e quadros de um tempo que já não volta para o que era bom, e que cristalizou no que era mau.
É o drama de Angola.

R.C

terça-feira, janeiro 09, 2007

os melhores filmes de 2006

3 meses de silêncio.

Sem nenhum de nós perceber muito bem porquê, há cerca de 3 meses que foi escrito o último texto neste blog. Porquê, interrogo-me.
Talvez estivessemos todos muito ocupados com o "fazer nenhum" que o verão sugere. Talvez o recomeço das aulas nos tenha varrido de tal forma o tempo que ninguém tivesse disposição para vir aqui escrever. Talvez o blog não estivesse a corresponder às expectativas que cada um de nós criou sobre ele. Talvez.
Pois bem, ano novo - vida nova. Abanemos este vegetal - sem vida própria desde Setembro passado.
O ano cinéfilo de 2005 foi atípico. Após um ano de pura viragem para dentro (por exemplo nos óscares de Hollwood), 2006 foi marcado pelo ressurgimento em força dos blockbusters em detrimento do cinema de autor. E vocês, consideram que este ano cinéfilo correspondeu às vossas expectativas? Ou não ficaram preenchidos com a oferta?
Na vossa opinião, quais os melhores filmes do ano que terminou recentemente?
Proponho que cada um faça uma lista com os 10 melhores filmes que tenha visto em 2006, de forma a termos aqui um tribunal cinematográfico que nos leve a algumas conclusões.

p.s - Esqueçam os filmes que entraram nas contas da edição passada dos óscares de Hollywood. Embora alguns tenham estreado em 2006, façam pontaria apenas para os que irão entrar nas contas da edição deste ano, dos Globos de Ouro e que já figuraram, por exemplo, no festival de Cannes.
Eis a minha visão da coisa:

1 - Inflitrado, Spike Lee
2 - The Wind that Shakes the Barley, Ken Loach
3 - O Tigre e a Neve, Roberto Benigni
4 - Paris je t`aime, 20 realizadores
5 - Dans Paris, Cristophe Honoré
6 - Carros, John Lasseter
7 - Maria Madalena, Abel Ferrara
8 - The Departed, Martin Scorsese
9 - O Perfume, Tom Tykwer
10 – Babel, Alejandro Gonzáles Iñarritu
A todos um bom natal.
R.C