terça-feira, dezembro 27, 2005

A Irlanda sabe

O texto anterior chama a atenção para o fogo que arde, mostrou como atiramos a lenha para a fogueira e depois queixamo-nos que "há fogo, há fogo!". Importa talvez saber o que cada um de nós pode fazer para não se queimar e, mais importante, como será possível apagar esse fogo.
O que me toca fazer para mudar as coisas ou, melhor ainda, para proteger-me, ajudando?
Prescindindo, fazendo escolhas, sendo inteligente.

Já que os Corleones deste país empurram o Estado (nós, claro) para investimentos faraónicos como o TGV (mais compreensível) ou a estupidez da OTA (...) e vamos sofrer no bolso como poucos na Europa, há que esquecer a gula e ganhar um pouco de humildade.
Pessoalmente quis ir para Sevilha passar o revéillon. Vou ficar em Portimão e poupo. Pensei em comprar um casaco de cabedal para o Inverno. Amei um em especial, custava 356€. Fiquei com o do meu irmão, custou-me nada.
No futebol está tudo inventado, ganha quem recorre aos exemplos de sucesso e desenvolve o seu trabalho a partir deles. Na política as coisas não divergem muito.
O(s) nosso(s) governo(s) devia(m) baixar a cabeça, ganhar humildade nas suas penas de pavão executivo e recorrer a quem sabe. A Irlanda sabe.

Aliando os fundos estruturais, decorrentes da sua integração na União Europeia em 1973, a reformas profundas de liberalização da sua economia (basicamente dirigida pelo Estado até finais dos anos 80, com resultados "dejà vu"), os irlandeses registaram um crescimento do PIB na ordem dos 80% na última década. E não é só Dublin que cresce e se desenvolve. Todas as regiões da Irlanda registam um crescimento real do PIB e isso também gera um clima de confiança social que estimula o investimento privado. Na Irlanda não se cresce através do betão. As pessoas vivem em bairros semelhantes, com casas baixas e humildes. Não se constroem 7 estádios de raíz para receber uma competição como um campeonato de Europa que sabem não poder suportar. Na Irlanda distribui-se os fundos da UE pela educação, pela formação, pela investigação; potencia-se os recursos humanos existentes. Não se vai para um campeonato de milhões com um saco de tostões. Herdando uma passado de dependência colonial, possuindo um terreno pouco fértil para a actividade agrícola e com uma população que não chega a 40% da portuguesa, a Irlanda revolucionou a sua economia num contexto de moderação da despesa pública, de estabilidade política e social e de um intervencionismo mínimo do estado na economia. Só assim é possível registar uma taxa de desemprego na ordem dos 4%.
Depois começamos a perceber melhor as coisas quando ouvimos (pouco, neste caso) falar de ricos e pobres, depois de conflitos sociais, de prostituição, de toxicodependência, de criminalidade...

R.C.

Tudo a postos!?

Ano 2006 (MMVI) no Calendário Gregoriano. Correspondente aos anos 5766-5767 no Calendário Hebreu e 1426-1427 no Calendário Islâmico. E... a 29 de Janeiro o início do ano do cão para o povo chinês.
Ano 2006 – Designado (não sei por quem) como o Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação, mas também o ano em que se celebra os 250 anos de aniversário do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart e os 400 anos do nascimento do pintor holandês Rembrandt. Muito bom, mas eu não venho falar disto.

O título deste artigo (Tudo a postos!?) era suposto incluir uma continuação em forma de várias hipóteses, todas elas com um toque, uma conotação, de negatividade tipicamente portuguesa, de comentário feito no autocarro que vai da Pontinha a Carnaxide, de uma simples proposta a uma imediata ou posterior reflexão negativa por parte do leitor ou de simplesmente dar a vontade de responder a este artigo com um comentário. Passo a explicar. O «Tudo a postos!?» seguir-se-ia com a sustentação de várias questões que passo a citar:
Tudo a postos para mais umas eleições presidenciais!? - (A conotação do «mais» é suposto dar aquela força de “serem mais umas”; de realmente não mudarem nada; de um vazio que passará a ser outro vazio) – Tudo a postos para continuarmos a ouvir falar da Ota e do TGV por parte do Governo, com o genial toque de elitismo de nem sequer os portugueses terem a sua palavra, quanto ao SEU dinheiro, sobre duas temáticas que, de uma forma geral, parecem ser condenadas maioritariamente por todos nós!? Tudo a postos para mais uma cambada de ignorantes roubarem o dito Estado, que no fundo somos todos nós, mas que para esses não é mais que uma entidade tão burra e tão fácil de roubar, e ainda vangloriarem-se aos amigos do que conseguiram roubar ao Estado, não percebendo que, no fundo e indirectamente, roubaram esses mesmos amigos que descontam para o tal Estado e que suportaram e suportam todos esses desvios e negociatas feitas ao longo deste anos!? Tudo a postos para mais um ano em que excelentes e dedicados professores (mas talvez poucos) trabalham dez vezes mais que outros que, para além de serem maus professores, contribuem para o degradante estado do ensino em Portugal!? Tudo a postos para mais fábricas serem encerradas!? Tudo a postos para mais um Verão cheio de fogos e secas por todo o país!? Tudo a postos para recebermos mais licenciados desempregados!? Tudo a postos para, mais uma vez, vermos os dinheiros europeus serem gastos (ou enfiados ao bolso) por grande parte da dita classe política deste país!? Tudo a postos para mais umas belas aventuras de corrupção, lobbys, demissões e destituições!? E agora o mundo: Tudo a postos para mais atentados da Al-Qaeda!? Tudo a postos para, como portugueses e europeus, continuarmos a temer a China sem competir à altura!? Tudo a postos para mais não-sei-quantas violações dos direitos humanos por todo o mundo, incluindo os ditos “senhores” da democracia que são os E.U.A. E finalmente, a minha preferida: Tudo a postos para continuarmos a queixarmo-nos sem nada fazer por isso!?

Pronto, era só isto que eu queria dizer. Agora cada um que reflicta e decida o que acha melhor fazer em 2006. Bom Ano!

J.A.